Esperem lá! Antes de começarmos a revirar os olhos e pensar “esta é a última coisa que vou querer agora, desvalorizar-me” por aqui também pensamos assim. O que mais pregámos em cima das cadeiras nas salas de formação e conferências para que nos oiçam com ouvidos de ouvir, é a reza que as tarifas na nossa hotelaria são baixas demais, que somos os primeiros a desvalorizar o nosso produto. E que se não somos bandidos não temos que fazer preço de ladrão.
E todos nós detestamos aqueles sítios “para inglês ver” que são destinados aos turistas, com preços para os turistas, com a simpatia para os turistas, como víamos nos destinos mais procurados do país há uns anos. O turismo interno mudou. Da perspectiva da oferta e da perspectiva da procura. e felizmente essa atitude também mudou. O turista português evoluiu, quero acreditar que mesmo não dando gorjetas como outros mercados que deixa sempre alguma e quero acreditar que vai deixar de ser tão implacável nas suas apreciações nos reviews (ou por aí também não se queixam que os comentarios mais negativos eram sempre de portugueses?!) e que será mais humano, mais benevolente e que isto acontecerá de parte a parte. O colaborador não terá um comportamento “ui, mais um ‘tuga, basta entregar-me a meio porque eles não só não tem dinheiro como nem deixam bons comentários”... Reset! Princípio da boa fé, please.
Nesta temática envolvemos duas consideracoes importantes:
1) Re-Invenção da hotelaria para a sua valorização real: capacidade de ter alguma coisa realmente diferente para oferecer. E aqui claro, começam alguns desafios maiores. O meu hotel já está feito o que posso fazer? Vamos antes analisar também o que faz de um hotel e de uma estadia incrível, incrível? Que ingredientes no aspecto do conforto térmico, do conforto acústico, do factor surpresa, da identificação e valores da marca, do serviço e profissionalismo da equipa e da marca (they are what you tell them to be, what you inspire them to be, as team leader). Será que sobrevivi até agora por mérito próprio ou por oportunidade e procura genérica? Vamos reabrir em jeito de hospital e servir comida como numa cantina? É esta a hotelaria criativa que vai ser implementada pós tudo isto? E durante isto tudo? E estamos preparados e a preparar-nos para isto tudo? Como refere Rodrigo Machaz (Memmo Hotels no seu talk com a Message in the Bottle) “mesmo sem se saber quando vamos implementar o plano, temos que o criar. Ponto.
2) Ajuste ao mundo real, focada no meu cliente. Atitude full-time Concierge. E nesse mesmo talk, Miguel Júdice refere e muito bem que tivemos um Estado a recuperar economia e a mostrar resultados “tanto-lindos” à custa dos empresários e das empresas que suportam custos avultadíssimos de impostos e taxas. Isto não vai continuar nesta fase! Não pode! E não é só o empresário que acarreta esse peso, os empregados também. Todos! É sabido que o ideal será valorizar o meu quarto e oferta de serviços para justificar a tarifa que exijo. E com base nessa premissa adequamos a estratégia comercial a mercados com x e y rendimentos. Segmentamos. Se por uma lado ouvimos que a hotelaria e o turismo serão os últimos a recuperar, por outro lado ouvimos que as pessoas estão sedentas para ir de férias e dormir fora, mas estamos todos sem rendimentos nem segurança. Não será fácil e o desafio sugerido pelos experts será uma aposta, numa primeira fase, no mercado nacional. Mas não se iludam, há quem viva com ordenados acima dos 2 mil mensais. Há portugueses e portugueses. Segmentação. Atenção à baixa drástica de tarifas. Não se iludam, há gastos novos que veem aí e que os hotéis terão que suportar: mais equipas na limpeza, mais produtos, mais investimento em material descartável, etc, etc. Atrair clientes (seja ele qual for) passará sempre por transmitir-lhe confiança , segurança e elevada higiene. E... sedução pura daquilo que ele sabe que não precisa, mas que ele quer: o acesso exclusivo da piscina em horário pré-agendado, idem ao ginásio, idem ao pequeno-almoço. Ter acesso exclusivo a uma piscina não é só uma forma de atrair o cliente para a segurança, mas também um add on incríve! É elevar a hotelaria a outro nível, a um patamar de hotelaria de luva branca. Concretizar essa capacidade vai gerar todo um novo compromisso de serviço.
Tudo isto é especulativo, são ensaios e suposições que vamos tecendo sem certezas, ajustados ao carácter e atitude de cada negócio que tem aqui provas de fogo impressionantes para revelar os seus valores e verdadeira capacidade. A marca como nunca se viu deve agora, mais que nunca ter um líder referência, presente (algumas equipas não estão habituadas a tê-lo presente que não para controlar, atenção às associações e mixed-feelings). Alguém que desenhe com solidez formas de actuação, num brainstorming que não pode ser que não colectivo, acrescido do desafio de alcançar equipas que, nesta fase, estão inseguras, comunicam a meio gás numa privação social. A gestão de recursos humanos e a assertividade das marcas e das equipas devem estar alinhadas para se compreender quem deve estar a bordo e com quem deixou de fazer sentido colaborar. Yep.
Há um mundo novo de promoção e comunicação em viagens que se querem com mais intenção, com significado e não “just because”. Estas exigem mais do serviço que nunca. Deixará de haver espaço para os hotéis mais ou menos, serviço assim assim e ligação emocional zero.
E quando voltar a acontecer alguma coisa, não vai acontecer tudo ao mesmo tempo. Será gradual, com espaço para implementação mas não para improviso. E a preparação é chave.
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